Aprenda como se tornar mestre
Chamamos de maestria à qualidade de alguém que é exímio, extremamente competente e que sempre apresenta sem grande dificuldade e às vezes esforço uma performance extraordinária. Neste artigo vou te mostrar como ser mestre em qualquer coisa que você queira.
A Lacuna entre a Mediocridade e a Maestria
O que diferencia uma pessoa comum de um mestre?
A regra de Gladwell-Ericsson
No livro “Outliers — Fora de Série” de 2008, Malcolm Gladwell apresentou o resultado de sua pesquisa sobre pessoas com desempenhos acima da média, como Mozart, Bill Gates e os Beatles.
Ele se baseou no trabalho de Anders Ericsson e Robert Pool publicado no livro “Peak: Secrets from the New Science of Expertise”.
Uma das conclusões a que este trabalho chegou é que todo mestre, toda pessoa com habilidade genial teve um mínimo de 10 mil horas de prática para chegar ao nível de competência que a caracteriza.
Isso é normalmente referido como “a regra das 10 mil horas” ou “a regra de Gladwell”, porque ele popularizou.
A regra de Kaufmann
Por outro lado, Josh Kaufman publicou no livro “Manual do CEO” (2010) o resultado da sua inconformidade com a regra de Gladwell.
O raciocínio dele foi o seguinte:
“são 10 mil horas para SER UM MESTRE, mas não quero ser um mestre em tudo. Há coisas que quero só saber superficialmente como fazer, só o suficiente para me virar.” — Josh Kaufman
Então Kaufman concluiu que para saber o básico sobre alguma coisa, saber somente o que é preciso para poder fazer aquilo sem a pretensão de uma performance de excelência são necessárias apenas 20 horas.
Esse conceito fez tanto sucesso, sobretudo depois da palestra dele no TED, que ele acabou escrevendo um outro livro somente sobre esse tema. Chama-se “As 20 Primeiras Horas” e ainda não tem tradução para o português.
Então somente com 20 horas de prática você pode ter conhecimento suficiente para colocar qualquer coisa em prática. 20 horas de prática é algo que dá pra fazer em uma semana ou menos se você precisar muito aprender alguma coisa.
Mas dá pra fazer em um pouco mais de tempo.
Quando as pessoas fazem auto escola, normalmente fazem entre 10 e 20 aulas práticas e já sabem dirigir, tem habilidade suficiente (mais as disciplinas teóricas) para passar no teste do Detran.
Porém ninguém sai da auto escola como um mestre no volante. Dirigir muito bem com habilidade de mestre leva muito mais tempo.
Com as 20 horas de prática da regra de Kaufman você sai com conhecimento mediano, está na média, é medíocre.
A lacuna entre a mediocridade e a excelência fica em aproximadamente 9.980 horas de prática.
Uma Maneira de Acelerar o Processo
Tenho hoje algo em torno de 56 mil horas de aulas dadas, incluindo aulas no sistema educacional, palestras diversas e todo tipo de treinamentos. Comecei a dar aulas profissionalmente em 1993, mesmo ano que conheci a PNL.
A primeira aula que dei na vida foi muito ruim. Muito ruim MESMO! Voltei pra casa chorando. Eu tive certeza que não tinha nascido pra ensinar nem explicar nada a ninguém. Meu desempenho foi ruim demais.
Acontece que essa primeira aula foi uma semana antes do carnaval e depois veio o recesso. Nesse recesso eu pensei bastante. Precisava do emprego. Eu decidi que ia melhorar.
O resto é história. Nem lembro de quantos anos fui eleito o melhor professor, de quantas turmas fui paraninfo ou quantos prêmios ganhei.
Paralelamente vi vários colegas começarem na profissão e não evoluírem. Eu saí do sistema educacional em 2007 e passei a dar aulas apenas em cursos, treinamentos e palestras, onde obviamente a carga horária é menor.
Tenho colegas que ainda estão no sistema educacional e, portanto, estão com muito mais horas de prática do que eu, mas que não evoluíram. Continuam dando as mesmas aulas. Raramente são promovidos. Estão esperando a aposentadoria desde os anos 1990.
Então a diferença não está somente na quantidade de horas. A questão é a FORMA como se faz essa prática.
A prática deliberada
Este é o nome que os especialistas em alto desempenho dão à forma específica com que se pratica de modo a realmente melhorar continuamente até atingir a maestria.
A verdade é que esse jeito de fazer as coisas pode ser usado também para aquelas 20 horas e facilitar a aquisição de conhecimento superficial também. Mas o foco deste artigo é na maestria.
O estudo desse procedimento veio da modelagem de pessoas de alto desempenho esportivo principalmente, mas inclui também a análise de performance intelectual também.
O que diferencia a “prática deliberada” do bom e velho trabalho duro são 5 características:
1 — Foco em melhorar o desempenho
O tipo de prática que leva à maestria tem como objetivo final adquirir habilidade de alta performance. É diferente de simplesmente fazer uma coisa como hobby. Você faz pensando em melhorar.
2 — Aumento gradual da carga ou dificuldade
Na prática deliberada colocamos sempre objetivos um pouco maiores que o atual nível de competência. É como a musculação em que gradualmente aumentamos o peso para desenvolver mais os músculos ou no treino de corrida em que se aumenta a distância regularmente.
3 — Busca de feedback e correção (Modelo TOTS)
O desempenho é constantemente medido e analisado para se avaliar o que pode ser melhorado, identificando o que funciona e o que não funciona.
4 — Altos níveis de repetição
É necessário também isolar as habilidades componentes e trabalhar seguidamente em cada uma delas até serem dominadas.
Como Aplicar a Prática Deliberada na sua Vida
Agora vem a melhor parte, aquela que realmente te interessa: como usar a prática deliberada para se tornar mestre em alguma coisa.
São 5 passos relativamente simples:
1 — Definir a área em que você quer ser mestre
Primeiro vem a decisão da área que você quer dominar. Em que você quer ser extraordinariamente bom?
Por exemplo naquele momento da minha vida em que decidi que queria ser um professor extraordinário, estava dando esse primeiro passo.
Vou usar aqui também o exemplo da musculação. Vamos então supor que alguém decida que quer ficar muito forte com muito volume muscular. É o primeiro passo.
2 — Separar essa área em habilidades específicas
A segunda coisa a fazer é dividir em habilidades específicas que compõem aquela área de maestria.
No meu caso, como professor, percebi que teria que dominar algumas coisas como a capacidade de perceber quando os alunos estavam me entendendo, de criar conexão com grupos, a flexibilidade de explicar a mesma coisa de várias maneiras diferentes (para quando as pessoas não entendiam de primeira) etc…
No caso da musculação, por exemplo, separa-se em membros inferiores e membros superiores.
3 — Definir que ações diárias e práticas são necessárias
Sabendo que habilidades específicas precisam ser desenvolvidas, o próximo passo é definir o que você precisa fazer no dia-a-dia para desenvolvê-
Em alguns casos existe a possibilidade de trabalhar em mais de uma ao mesmo tempo. Quando eu dava aula, geralmente estava trabalhando todas ao mesmo tempo. Mas mesmo assim eu tinha um plano, porque percebi que pensar em todas ao mesmo tempo era difícil demais e isso nos leva ao quarto passo.
No caso da musculação, seriam os exercícios específicos a serem feitos, rosca biceps, supino, agachamento etc…
4 — Criar um plano diário/semanal para desenvolver essas habilidades
Nesse passo você cria um plano para estar todos os dias desenvolvendo uma dessas habilidades. O ideal é que você foque em uma delas por períodos definidos ou por dia.
Por exemplo, eu focava em prestar atenção às expressões e dúvidas típicas dos alunos às segundas, criar conexão às terças, testar diferentes modos de falar às quartas etc…
Frequentemente tinha que usar tudo ao mesmo tempo, porque nessa profissão não dá pra dividir assim tão certinho, mas eu PRESTAVA MUITO MAIS ATENÇÃO às habilidades específicas estipuladas para cada dia.
No exemplo da musculação, normalmente os treinadores separam por dias e alternam. Então, por exemplo, tem o dia de treinar pernas, o dia de treinar costas e ombros, o dia de treinar braços e abdômen etc…
5 — Fazer e observar os resultados dia após dia
Entrar em ação, fazer o que planejou, e observar como está indo, o que pode ser melhorado (tanto na prática quanto nos seus planos).
Algumas vezes no meu desenvolvimento como professor, eu percebia que o plano que eu tinha feito era inviável na prática, então mudava o plano.
Às vezes no treino de musculação você pode perceber que está treinando demais ou de menos etc… Então você vai corrigindo.
O próprio progresso e o fato de estar cumprindo as tarefas vai te estimular a continuar mais e mais.