Espaços e distâncias na comunicação
Edward T. Hall morreu em 2009 aos 95 anos. Uma vida longa e muito produtiva. Ele era um antropólogo especialmente interessado em comunicação não verbal universal.
Se Paul Ekman decifrou a maneira como as micro expressões faciais expressam emoções universalmente mesmo em culturas diferentes, Edward Hall decifrou a linguagem do corpo, seu tamanho e suas distâncias, mas não chegou a resultados iguais em culturas diferentes.
Pelo contrário, o tipo de linguagem com que Hall trabalhou varia culturalmente e pode ser usado como marcador tipificador cultural. Nas culturas ocidentais a relação é totalmente diferente das orientais.
Mas afinal o que é comunicação PROXÊMICA?
A palavra proxêmica tem raiz no latim proximus que significa perto. Ou seja, a noção de se comunicar através de chegar mais perto ou ficar mais longe. Seja por translação (mover o corpo) ou por expansão/contração de partes do corpo.
O que significa quando uma pessoa chega mais perto de você? Ou quando se distancia? Existe uma proximidade que pode ser considerada abuso? Existe uma distância que significa desprezo?
O estudo desse conjunto intrincado de correlações entre distância e significados é a comunicação proxêmica.
Na Enfermagem estuda-se bastante proxêmica. Afinal, o quanto você está disposto a ficar perto de alguém doente? Na ciência da negociação e interrogatórios, proxêmica é fundamental, muitas vezes determinando resultados que afetam milhares de pessoas.
Até na ciência da sedução (PUA), a comunicação proxêmica é estudada, embora seja bem superficialmente na forma de escalação cinestésica (kino escalation).
Há muito de comunicação proxêmica na sua vida e você provavelmente nunca se deu conta conscientemente.
Padrões médios
No livro “A Dimensão Oculta”, Eward Hall analisa profundamente como o ser humano percebe e se apropria do ESPAÇO e os significados que isso tem.
Ele chegou a valores médios válidos para a maior parte da humanidade (sociedades ocidentais) para distâncias aceitáveis, a saber:
O espaço de 45 cm a partir do seu corpo é considerado zona íntima. Se alguém chega tão pertinho assim, ou tem intimidade ou está intimidando.
Bem, pode ser falta de noção também. Me lembro de um cara que trabalhei que ia falando com as pessoas e chegando cada vez mais perto. Parecia mesmo que queria beijar, mas era falta de noção. Falava assim com todo mundo. Muito desagradável. E ainda tinha gengivite braba…
A sensação de ter seu espaço invadido por alguém que você considera que não tem intimidade suficiente é extremamente desagradável e causa uma espécie de repulsa, asco ou raiva.
Entre 45 cm e 1,20m é considerada zona pessoal. é a distância que o cara do exemplo anterior deveria manter enquanto conversava com as pessoas. É a distância razoável para qualquer conversação normal de amigos ou de trabalho.
Essa também é uma região que não gostamos de ter qualquer pessoa. É preciso uma espécie de permissão especial para que alguém permaneça a essa distância por muito tempo. Senão, vem aquela sensação desagradável.
Depois disso, até uns 3 metros e meio mais ou menos, é considerada zona social e acima disso, zona pública.
A zona social tem poucas restrições. Normalmente as pessoas não querem nesta zona quem tem doenças contagiosas ou alguém que implica em vergonha ou desonra, alguém que você não gostaria de ser visto com ele.
Uma extensão do corpo
Segundo a proxêmica, o território à nossa volta é percebido e representado internamente por um mapa construído em cinco sentidos (visão, audição, cinestesia, olfato e gosto).
Este território que nos rodeia é um prolongamento do organismo, marcado por sinais visuais, verbais e olfativos. A percepção deste espaço se divide em duas categorias:
- Receptores à distância — Olhos, ouvidos e nariz
- Receptores imediatos — Tato, sensações na pele, mucosa e músculos
Nesse sentido a máxima intimidade é atingida com o alimento que não só integra o ambiente, chega perto quando trazemos à boca, mas passa a fazer parte do próprio organismo depois de ter sido engolido.
A sexualidade também está num nível altíssimo de intimidade, o mais alto entre pessoas, por causa da penetração e sensações de todos os tipos com distância zero entre os corpos.
Uma escala de intimidade
Então se forma um contínuo de comunicação proxêmica em que o máximo de intimidade é o próprio processo de alimentação e o mínimo é alguém a mais de 3 metros e meio de distância.
Por isso toda aproximação, seja por movimento do corpo para mais perto, seja esticando o braço, a perna ou expandindo alguma parte do corpo tem um significado inconsciente de tentativa de aumento de intimidade ou exposição.
Num interrogatório, por exemplo, quando o interrogador consegue conexão com o interrogado, normalmente há uma aproximação. Ou o contrário, ele vai se aproximando conforme procura estabelecer rapport. A forma como o outro lida com a variação de distância é um feedback importante no processo.
Se em algum momento o interrogado se afasta ou contrai uma parte do corpo aumentando a distância, está tentando diminuir a exposição e isso, obviamente tem um significado.
Assim também nas nossas conversas do dia-a-dia, temos nossos próprios padrões de distanciamento e proximidade com diferentes pessoas e em diferentes assuntos também. Tomar consciência disso te coloca num patamar de compreensão e domínio da comunicação diferenciado.
A maioria das pessoas tende a pensar em termos de rapport, espelhamento, linguagem corporal e micro expressões, mas há muito mais para ser visto, percebido e, sobretudo, controlado.
Observe seus próprios padrões de proximidade. Observe os padrões de grandes amigos, de casais muito felizes e também de outros não tão satisfeitos assim. Você vai perceber muitas coisas interessantes…
Se quiser estudar mais sobre proxêmica, te convido para meu curso de comunicação de alto impacto.