O que Fazer em Momentos de Crise

Algumas atitudes simples que podem te ajudar a se reerguer de momentos de crise.

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Todos temos nossos momentos de crise e, se soubermos como lidar com eles, podemos aprender lições extremamente valiosas para nossa vida.

1 – Relembrar suas raízes

Uma coisa que faço regularmente é lembrar de onde eu venho. Recordar meus pais e meus avós e a influência, tanto benéfica quanto maléfica que tiveram sobre mim.

Sobretudo lembro da luta deles para me criar e penso com muita força, olhando para as fotos deles: “Vocês não me criaram ser um fracasso e muito menos pra ser medíocre.

Na verdade isso é uma coisa que faço todos os dias, não preciso estar em crise pra fazer isso. Faz parte da minha rotina de auto motivação. Mas em momentos de crise, fazer isso ajuda demais!

Meu caso específico

Eu nunca vi minha avó faltar ao trabalho. Nunca. Foram mais de 40 anos de serviços prestados à educação da cidade do Rio de Janeiro, primeiro como professora, depois como psicopedagoga no cargo de especialista em educação da Secretaria Municipal de Educação. Nem mesmo doente ela faltava.

Quando se aborrecia muito, ela costumava ter aqueles “derrames” nos olhos em que a parte branca dos olhos se enche de sangue, mas mesmo assim ia trabalhar.

Depois que se aposentou jamais vi minha avó deitada o dia inteiro. Fazia tudo dentro de casa, cuidava de tudo. Era ativa desde a hora em que acordava até dormir, não ficava parada.

Ela foi nesse ritmo de cuidar de tudo na casa até o dia em que começou a ter uns enjoos estranhos e quando foi ao médico descobriu um câncer do tamanho de uma bola de tênis no estômago dela. Poucos dias antes ela estava andando pela casa pra lá e pra cá e o único sintoma foi uma azia que não passava! Imagina a energia dela!

Quando foi operar o câncer, morreu.

Eu nunca vi meu avô deixar de trabalhar. Reservista da Aeronáutica onde prestou serviços à nação e empreendedor nato sempre envolvido em um monte de negócios, trabalhou todos os dias de sua vida, mesmo quando estava doente. O mesmo padrão.

Me lembrei muito dele quando vi essa homenagem prestada ao dia D. Ele teria se emocionado muito.

Meu avô só parou quando teve uma isquemia (AVC) que deixou sequelas que o impossibilitaram de efetivamente trabalhar, mas ainda decidia tudo, mantinha a mente ativa, lia e sabia de tudo que estava acontecendo.

Fui criado pelos meus avós a partir de 9 anos, quando minha mãe faleceu. Antes disso já ficava bastante com eles. Eles foram a maior influência na minha criação, com certeza mais do que meu pai e minha mãe.

Eu jamais, por motivo nenhum, podia faltar a escola. Eu teria que estar REALMENTE quase em coma pra faltar à escola. Me lembro que, quando estava me recuperando de uma cirurgia que fiz nas pernas aos 9 anos, um período de 6 meses, mesmo assim eu tinha aulas todos os dias com professora particular.

Fico vendo essas crianças e adolescentes que faltam a escola porque estão com tosse e acho graça. Na verdade, dá até pena da pessoa.

Eles me obrigaram a estudar inglês. Eu tinha raiva. Achava chato. Vários coleguinhas meus tinham pedido e seus pais tinham deixado eles saírem do cursinho. Eu tinha inveja deles terem esse tempo livre. Aos 20 eu falava 4 línguas, e eles mal falavam o português direito.

Quando eu tirava notas menores do que 9, a gente sentava pra conversar. O nível de exigência era alto. Não tinha moleza.

Minha mãe era doente emocional, desenvolveu lupus eritematoso sistêmico quando meu pai a abandonou, como uma forma de resignação e suicídio lento. Naquela época não se sabia nada sobre doenças auto imunes, mas isso não fazia muita diferença, ela queria morrer.

Minha mãe me ensinou como uma doença emocional pode transformar uma pessoa doce e amorosa e auto destrutiva. Ela foi o meu maior exemplo para vencer o transtorno bipolar. Ela não venceu, infelizmente, mas eu venci por ela!

Meu pai era um gênio, uma inteligência MUITO acima da média, dominava qualquer assunto, falava sobre qualquer coisa, falava 5 línguas, aprendia com uma rapidez inexplicável, mas era emocionalmente instável.

Hoje, depois do meu próprio diagnóstico de transtorno bipolar, acredito que ele também tinha e é uma pena que a Psiquiatria não estivesse suficientemente desenvolvida na época para que ele pudesse se curar como eu me curei.

Apesar disso meu pai foi extremamente amoroso e cuidadoso comigo como pai. Isso só mudou quando se tornou alcoólatra. O álcool transformava aquele homem empático e carismático em um monstro.

Ele foi o maior exemplo pra eu cuidar da minha saúde e jamais me envolver com drogas de nenhum tipo. Ele fumava, bebia e cheirou cocaína. Morreu jovem no quarto infarto do miocárdio.

Deus me livrou de ser criado por dois malucos, dois malucos que amo e honro muito como pessoas que foram o melhor que conseguiram ser pra mim e pra eles mesmos, os meus pais, e me colocou nessa família estável, amorosa e exigente que eram os meus avós.

Não posso mensurar a gratidão que sinto quando lembro de toda a minha infância. Sou grato pelos traumas físicos (apanhei demais e fui abusado), pelos traumas emocionais e por todo o amor que TODOS demonstraram, mesmo em forma de afeto disfuncional algumas vezes.

É por isso que muitas vezes falo pros meus pacientes: talvez sua mãe batesse e punisse mais você do que seus irmãos porque te amava mais. Talvez…

Sempre se aplica

Quando falo sobre minha família, minhas raízes, algumas pessoas me falam que seus pais foram péssimos, bêbados que batiam em suas mães, ou mães promíscuas que traziam um “novo pai” pra casa toda semana.

Nesse caso, há ainda mais força pra ser retirada. Porque você NUNCA vai querer ser igual a eles. E você deve olhar pra foto deles, como olho pra fotos dos meus antepassados, e deve dizer: “Respeito sua incapacidade de serem melhores pais, mas juro que nunca serei como vocês!

Essa coisa de ver as origens eu aprendi com a Oprah Winfrey. Dá uma olhada nesse trecho de uma entrevista:

2 – Refletir profundamente sobre as causas da crise

“Algumas vezes a gente vence, nas outras a gente aprende.”
Robert Kyiosaki (autor de “Pai Rico, Pai Pobre”)

Um amigo me disse que a autorresponsabilidade é o canivete suíço do desenvolvimento pessoal. É interessante essa metáfora porque é totalmente verdadeira: você pode explicar todas as condições da sua vida como causadas predominantemente por você mesmo.

E isso é fonte de uma gigantesca esperança e potencial porque, se foi você que criou (mesmo sem querer) a situação ruim (momentos de crise), isso significa que você tem poder pra DEScriar, ou seja, produzir outros resultados.

Então, cada vez que caímos, erramos, perdemos, nos deprimimos, a coisa mais fundamental a fazer é procurar aprender o máximo com a situação.

O que causou isso? De que formas você contribuiu, mesmo sem perceber, para a situação chegar nesse ponto? Como você poderia abordar essa questão de outra forma?

A reflexão profunda sobre as causas das nossas perdas e derrotas e, sobretudo, sobre como fazer diferente da próxima vez é o primeiro passo para se levantar.

3 – Retornar à disciplina nos momentos de crise

Retorne a todos os cuidados e detalhes que você era muito atento antes dos momentos de crise e que talvez tenha deixado de fazer por pensar que eram hábitos já estabelecidos.

Volte a acordar cedo, volte a treinar seu corpo, volte a estudar, volte a fazer os básicos da sua vida, seu negócio, seus relacionamentos etc.

Todas as vezes que tive perdas, me tornei extremamente disciplinado com meu ritual matinal, meus estudos, minhas orações e as ações básicas do meu trabalho. E essa disciplina te coloca em movimento de novo, mesmo desanimado.

Que disciplina você quer desenvolver? Quais os fundamentos da sua vida que você deixou de dar tanta importância? Esses serão os degraus da sua subida.

4 – Definir novos objetivos nos momentos de crise

Uma coisa importante quando passamos por esses invernos e outonos da vida é que percebemos que algumas coisas e pessoas que dávamos muito valor, na verdade não valem tanto assim.

Nós costumamos redefinir nossas prioridades, nosso sistema de valores. E isso faz com que a maioria dos nossos objetivos antigos se altere.

Isso não acontece somente quando estamos em crise, mas também quando grandes mudanças acontecem. O nascimento de um filho, por exemplo, muda toda a nossa escala de prioridades.

O mais importante nas crises é saber QUE COISAS se tornaram as mais importantes agora. E, a partir dessa nova noção de prioridades, definir novos objetivos para a sua vida.

Saúde

É importante definir novos objetivos de saúde. Cuidar do corpo, principalmente da aparência e da imunidade, tem uma atuação direta sobre a nossa auto estima e senso de valor.

Essa é uma área muito importante em um processo de reerguimento, de redenção, de dar a volta por cima.

Profissão

Normalmente novos objetivos profissionais ajudam bastante também. Eu, particularmente, sempre fui muito ligado ao trabalho, então em todas as crises caí de cabeça na minha profissão.

Não digo que você vai pensar em mudar de profissão, mas pode levá-la mais a sério ou mudar a forma de abordar seu trabalho, com as novas prioridades que a vida acabou te levando a ter.

Vida social

Desenvolver uma vida social saudável (caso você não tenha nenhuma) ou investir na sua vida social já existente pode ajudar muito.

Seres humanos já nascem com a circuitaria do sistema nervoso toda voltada para criar conexões sociais. Isso esteve ligado à sobrevivência da humanidade nos últimos milhares de anos e é quase instintivo.

Então, uma pessoa sem nenhuma vida social ou com uma vida social disfuncional está com uma das pernas mais importantes da felicidade quebradas.

Procure seus amigos, aceite convites, vá a eventos, conheça gente nova. Isso vai ventilar sua mente.

Vida espiritual

Se você, como eu, acredita no fenômeno espiritual, essa é uma área fundamental a ser desenvolvida e trabalhada. Em todas as minhas crises, me apeguei mais a Deus, o Universo e toda a espiritualidade em que acredito e isso me deu muita força.

Ao estudar a história da humanidade, você vai ver que todos os grandes líderes e conquistadores da história eram homens de fé e isso os impulsionou fortemente nos momentos mais difíceis.

Se você é ateu, desenvolva vida espiritual através da contribuição. Faça coisas boas para as outras pessoas e para o mundo.

Em algumas fases muito ruins da minha vida eu me meti mais ainda em trabalhos voluntários e aquilo me ajudou demais a me recuperar.

5 – Resgatar ou se apoiar nos amigos nos momentos de crise

“A única maneira de ter amigos é ser amigo.”
Ralph Waldo Emerson

Se você tem amigos importantes dos quais se afastou nos últimos tempos, chegou a hora de resgatar a amizade. Isso vale para a família também.

Afinal de contas nem todos os irmãos são amigos, mas se você quiser que eles sejam seus amigos, primeiro você terá que ser amigo deles. O primeiro passo é seu, sempre.

Procure seus amigos e irmãos e se esforce para unir-se a eles novamente ou com mais força agora no momento difícil.

6 – Assumir 100% da responsabilidade por “sair do buraco” nos momentos de crise

Já falamos de autorresponsabilidade neste artigo, mas em relação ao que levou você aonde está. Agora é hora de assumir totalmente a responsabilidade sobre o processo de ir para onde você quer chegar.

Só você está sofrendo essa derrota e cabe somente a você fazer tudo que estiver ao seu alcance para sair dela.

A cavalaria não vai chegar pra te salvar, você é que precisa se reerguer e fazer tudo diferente dessa vez. Isso não é responsabilidade dos seus pais, dos seus amigos, dos seus irmãos, é somente sua responsabilidade.

7 – Criar um plano de ação sustentável

Depois de ter definido novos objetivos e fortalecido sua rede de apoio, você precisa usar a disciplina que citei no item 3 para efetivamente fazer coisas que vão te fazer reerguer.

Que coisas você precisa fazer?

É importante que essas coisas não sejam difíceis ou sacrificantes DEMAIS porque se forem, você não vai conseguir manter a média e longo prazo, então estabeleça passos pequenos, ações simples que vão te ajudar a crescer e sair para sempre da crise em que se meteu.

Para aprofundar esse item, recomendo o livro “Atomic Habits” de James Clear, o primeiro a definir esse conceito e que já foi muito imitado, mas considero a abordagem dele bem melhor:

Momentos de crise
“Hábitos Atômicos” de James Clear

Essas são algumas coisas que faço nos momentos de crise, quando as coisas dão errado e me sinto preso. Sendo que a número 1 (relembrar as raízes) eu faço diariamente como parte do meu ritual matinal e, posso atestar que dá muita força pra continuar.

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