Como Aprender Mais e Melhor

Entenda como o Cérebro Aprende

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Como já disse antes no artigo “A Única Coisa Capaz de te dar Segurança“, a capacidade de aprender tanto conteúdo teórico quanto novas habilidades é que vai definir o quanto você vai conseguir se adaptar às mudanças cada vez mais rápidas que acontecem no nosso mundo.

Para completar uma tarefa aparentemente complexa (como a habilidade de aprender qualquer coisa), é necessário primeiro dividir em etapas compreensíveis e simples para que algo que pareça difícil se torne fácil porque suas etapas são relativamente fáceis também.

Imagem de Ulrich Wechselberger por Pixabay

Parte 1 – Como o Cérebro Aprende:

Primeiro vamos entender cada etapa do processo de aprender do cérebro humano.

1 – Adquirir informação:

A primeira etapa do processo de aprender é a aquisição de informação. É quando você vê, ouve, sente, cheira ou prova alguma coisa, quando a informação “entra” no seu sistema nervoso através dos sentidos.

Se você está procurando aprender alguma coisa através de leitura, é a visão das letras e palavras, se for através de uma aula, é ver e ouvir a voz do professor, se é uma habilidade física, é o movimento que faz com o corpo, se é culinária, é o gosto ou cheiro de algum tempero ou componente etc…

Essa primeira etapa acontece automaticamente. Basta você olhar, ouvir, tocar, cheirar ou provar que a informação já está sendo levada ao cérebro e ele começa a aprender.

2 – Comparar com a Informação Prévia:

Quando a informação chega ao sistema nervoso, ela é comparada com a informação prévia que você tem sobre o assunto.

Por exemplo, se falam uma palavra em russo e a pessoa que está ouvindo não sabe falar essa língua, então ela não vai conseguir compreender porque não tem nenhum registro de significado para aquele som ou conjunto de letras.

No curso de NeuroAprendizagem costumo perguntar para os alunos se conhecem a palavra “PRASEODÍMIO“. As pessoas começam a tentar encontrar sentido por semelhança. Alguns chutam que é alguma coisa ligada a prazer, outras a um processo de redução, mas somente quem conhece química realmente sabe o que significa praseodímio.

Por outro lado se falo a palavra “CACHORRO”, todos entendem imediatamente, embora cada um tenha uma imagem própria de cão que lhe vem à mente (alguns pensam em pinscher, outros em labrador, vira-lata caramelo etc…), mas todos entendem porque JÁ SABEM o que é um cachorro.

Então a frase “um praseodímio me atacou ontem” provavelmente não faria sentido para você, mas a frase “um cachorro me atacou ontem” faria todo sentido e você provavelmente ainda faria perguntas sobre a raça do cachorro, o tamanho da mordida etc… porque é um assunto sobre o qual já tem informação prévia.

Por isso, quanto mais informação prévia se tem sobre um determinado assunto, melhor é o processo de aprender.

3 – Compreensão ou Confusão:

De acordo com a comparação da nova informação com o que você já sabia sobre o assunto, você compreende claramente ou fica confuso.

Parece que isso está incluído dentro do processo de comparar com a informação prévia, mas é uma etapa posterior do processo de aprender porque busca um SIGNIFICADO para aquela informação.

Imagem de Charpnel Records

Então, se eu te mostrar um vídeo de um cachorro voando sobre uma cidade que você conhece, você vai saber que se trata de um cão e provavelmente vai reconhecer a cidade, mas pela sua informação prévia, cachorros não voam, então sua mente automaticamente vai buscar uma explicação para aquilo, se perguntando se são efeitos especiais, se não fotografaram o cão no meio de um salto, se é o “Cão Kripton” do Super Homem etc…

Se estiver lendo sobre um assunto que você não sabe muitas coisas, não tem muita informação prévia, vai ficar confuso e será mais difícil de aprender inicialmente. Por isso as matérias que você entendia melhor na escola eram as matérias que você sabia mais desde criança (mesmo que seja educação física – inteligência corporal-cinestésica).

Esse é o motivo de dizermos que a confusão é o portal para novos aprendizados. Sempre ficamos confusos quando tentamos aprender um tema sobre o qual ainda não sabemos nada ou conhecemos pouco. Isso também explica que, quanto mais estudamos um assunto, mais fácil é entender e aprender mais sobre ele.

Então, volto a dizer, quanto mais informação prévia se tem sobre um determinado assunto, mais eficiente é o processo de aprender.

4 – Avaliação de Relevância:

Esse é um processo inconsciente que o sistema nervoso faz para avaliar se aquela informação é importante (deve ser memorizada), útil (deve ser usada), requer ação imediata ou envolve emoções intensas. Essa avaliação depende do que é prioridade na sua vida.

Um exemplo de informação importante é, se você quer emagrecer, saber que UMA lata de refrigerante POR SEMANA acumula um ganho de peso em gordura de 7kg em um ano. Por que é relevante? Porque vai levar à reflexão a respeito do consumo de refrigerantes.

Um exemplo de informação útil, usando o mesmo exemplo de alguém que queira emagrecer, é saber qual tipo de exercício físico gasta mais calorias com menos esforço. Você pode aplicar imediatamente, caso não haja nenhuma restrição médica.

Um exemplo de informação que requer ação imediata é tomar conhecimento de alguma ameaça à sua vida, como saber que um assaltante entrou no prédio ou coisa do tipo.

Um exemplo de informação que envolve intensidade emocional são calamidades significativas (como o 11 de setembro de 2001 ou a peste de 2020).

5 – Retenção ou Descarte:

Baseado na relevância da informação, o sistema nervoso decide autonomamente que informações deve guardar (memorizar a médio/longo prazo) e quais deve descartar.

O problema desse critério natural do cérebro para aprender e reter é que não podemos direcioná-lo conscientemente, apenas através de estratégias que “enganam” o cérebro, usando um dos 4 critérios naturais de relevância (importância, utilidade, ação imediata, intensidade emocional).

Um bom exemplo disso é que, se você tem mais de 30 anos, provavelmente não lembra do que comeu no almoço de terça-feira duas semanas atrás, mas lembra de todo o dia 11 de setembro de 2001. Eu lembro o que comi no café da manhã, no almoço, pra quais dei aula naquele dia e até quais foram os assuntos da matéria! Porque esse foi um dia de grande impacto emocional para o mundo todo.

Imagem de Meine Reise geht hier leider zu Ende. Märchen beginnen mit por Pixabay

Parte 2 – Como Reter Mais o que quer Aprender:

Nessa parte não vou falar sobre técnicas específicas de memorização, ou “decorar” como se diz popularmente. Vou escrever outros artigos sobre como fazer isso. O assunto aqui é como reter conhecimento de forma natural lendo um livro ou assistindo uma aula ou vídeo.

Você já entendeu que para COMPREENDER um assunto precisa adquirir cada vez mais informação e que, inicialmente todo tema parece confuso e difícil de aprender. Então, se quiser compreender melhor alguma coisa precisa obter cada vez mais informação sobre ela: ler livros, artigos, assistir vídeos, palestras, aulas etc…

Mas RETER a informação, guardar na memória por muito tempo já é outra questão. É comum entendermos bem um livro ou uma aula e depois de pouco tempo esquecermos a maior parte da informação. Então, como podemos fazer para reter e nunca mais esquecer?

1 – Intensidade Emocional:

Se eventos que naturalmente causam emoções fortes fazem você lembrar das coisas por mais tempo ou até para sempre, como podemos colocar mais intensidade emocional em uma leitura de livro, por exemplo, para poder aprender melhor?

Procurando SENTIR tudo que está sendo descrito, tendo empatia pelas pessoas das situações descritas, associando o máximo de boas emoções ao material que está sendo estudado.

As emoções podem ser condicionadas como ensino neste artigo e você pode ligar boas emoções ao próprio ato de ler ou estudar.

2 – Visualização Detalhada:

Para ajudar a sentir mais e reter melhor a informação, quanto melhor você IMAGINAR as cenas descritas ou situações relacionadas ao que está estudando mais vai engajar partes diferentes do cérebro e criar para o seu sistema nervoso a noção de que aquele assunto é importante.

Quando estou estudando algum tema ou mesmo lendo um livro de ficção, criou um verdadeiro filme mental cheio de detalhes, sons, cores, cheiros e até trilha sonora como a de filmes do cinema. Isso faz com que guarde as informações muito melhor.

Se você não é bom em visualizar, recomendo um manual que publiquei aqui mesmo em forma de artigo.

3 – Repetição Regular:

Qualquer coisa que é MUITO repetida, o cérebro acaba entendendo que é importante e que deve ser guardada. Tanto que a repetição é o método mais eficaz de lavagem cerebral. Joseph Goebbels, o Ministro de Publicidade de Hitler, dizia que “uma mentira repetida mil vezes se torna verdade” e nós sabemos que isso funcionou pra eles e que tem sido amplamente usado, sobretudo nesses últimos anos.

Então se quiser aprender e reter a longo prazo, leia, releia, leia de novo, faça anotações, releia as anotações, faça anotações de novo. Fale pra si mesmo o que quer reter várias vezes. Crie músicas (o que já é uma técnica de memorização específica que vou ensinar em outro artigo).

A repetição é a mãe do aprendizado.

4 – Ensinar a Outras Pessoas:

A sociabilidade e a necessidade de ser aceito pela comunidade são instintos muito primitivos ligados ao senso de sobrevivência do ser humano. Imagine 10 mil anos atrás você tentar sobreviver sem pertencer a uma tribo. Na antiga Grécia uma das piores punições que um homem poderia receber era o ostracismo, ou seja, ser banido da sociedade. A maioria simplesmente cometia suicídio.

Então, temos essa ligação emocional primitiva entre ser compreendidos e sobreviver. Por isso, quando você tenta explicar alguma coisa que aprendeu para outras pessoas ou mesmo quando se prepara para explicar, ensaia como seria ensinar aquilo, você aprende muito mais do que somente estudando, visualizando e repetindo.

Se você não tiver uma ou mais pessoas para efetivamente ensinar o conteúdo, imagine como seria explicá-lo, como você faria para conduzir as pessoas a entenderem aquele tema.

Isso funciona MUITO bem, por mais estranho que possa parecer à primeira vista e você já deve ter ouvido algum professor falar alguma coisa do tipo “eu estou aprendendo mais do que vocês”.

Conclusão

Procurei nesse artigo explicar de forma simplificada e resumida como nosso cérebro aprende e algumas formas de aumentar a retenção do conteúdo. Então, só pra resumir:

As etapas do processo de aprender são:
1 – Adquirir Informação
2 – Comparar com a Informação Prévia
3 – Compreensão ou Confusão
4 – Avaliação de Relevância
5 – Retenção/Memorização

As formas mais simples de aumentar a retenção são:
1 – Adicionar Intensidade Emocional
2 – Fazer Visualizações Detalhadas
3 – Repetir Muitas Vezes
4 – Ensinar o Conteúdo

Espero que isso te ajude a estudar melhor. Tenho um vídeo com a primeira aula do curso NeuroAprendizagem disponível no YouTube, caso queira assistir, está aqui:

Se quiser se inscrever na minha lista de transmissão com mensagens diárias, clique aqui.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *