O Mito da Espontaneidade

Perdendo vida todos os dias.

Imagem de Arek Socha por Pixabay

Então existe esse mito de que as coisas devem ser espontâneas e naturais e que você deve ser “você mesmo” e se aceitar do jeito que você é (seja lá o que isso signifique).

Em uma versão piorada, o mito diz que tudo que não é espontâneo e natural não é verdadeiro. Ou seja, tudo que você não nasceu fazendo não é genuinamente quem você é.

Então melhor voltarmos a usar fraldas e simplesmente fazer cocô e xixi onde quer que estejamos porque isso sim é realmente natural e espontâneo. O que tem de natural em sentar no vaso sanitário? Já viu algum leão ou macaco fazendo isso na floresta? Na floresta nem tem vaso…

A Verdade

A verdade é que a grande, a imensa maioria das melhores coisas que você faz e sabe fazer NÃO SÃO NADA espontâneas. Podem ter se tornando automáticas e PARECEREM naturais por conta de terem se transformado em hábito, mas certamente não são espontâneas.

Se você é inteligente e sabe muito sobre algum tema ou se você tem um corpo muito bonito, dificilmente isso é unicamente fruto de uma genética boa. Há estudo envolvido e exercícios físicos, cuidados com a pele, cabelos etc…

A “pura inteligência genética” sem expressão é indistinguível da ignorância ou até da burrice. Então, no mínimo, você precisou aprender a se comunicar bem. E boa comunicação exige MUITO aprendizado e não é nada natural. Afinal a cada expressão diferente que a pessoa faz, você precisa adaptar o jeito de explicar.

História de Vida

Mas agora um contraponto. Há pessoas que, aos 15 anos de idade, por exemplo, apresentam os mais diversos comportamentos e habilidades naturalmente incorporados ao seu jeito de ser. Tão incorporados que parecem naturais e espontâneos.

Tendemos então a pensar que essas pessoas SÃO assim.

Mas essas são as coisas que elas aprenderam por sua história de vida, seja com seus pais, parentes, colégio, amigos de infância, seja como for. Isso da história de como elas tiveram que se adaptar à vida.

Minhas habilidades de comunicação vieram, em grande parte, de ter pais emocionalmente muito instáveis, de modo que eu tinha que saber muito bem como escolher as palavras a usar e precisava perceber muito rápido suas mudanças de expressão para prever uma “catástrofe emocional” a tempo de evitar. Adaptação.

Hoje sou considerado um “comunicador nato”.

Então, sempre há essas coisas que a própria infância nos ensinou e que provavelmente sempre seremos bons nisso. E temos a tendência de achar que SOMENTE ESSAS COISAS SÃO O QUE REALMENTE SOMOS.

Mas há muitas outras que você pode aprender AGORA e, daqui a algum tempo, ficar tão bom quanto os tais “talentos naturais”. Desde que valha a pena, vale a pena.

Porque eu poderia aprender a tocar violoncelo em nível de virtuoso, mas isso levaria em torno de 8 horas de prática por dia. Será que valeria a pena dedicar 8 horas do meu dia somente a isso? Será que isso está alinhado aos meus projetos de vida?

Bem, se meu grande sonho é ser violoncelista virtuoso, então claro que vale a pena. Só precisaria arranjar um jeito de pagar minhas contas enquanto completo as tais 20 mil horas necessárias de prática.

Custo de Oportunidade

O nome dessa avaliação se realmente vale a pena dedicar essas horas é custo de oportunidade, um termo da ciência da Economia definido pelos benefícios alternativos dos quais você abre mão para poder fazer alguma coisa.

Alguns anos atrás, quando fiz minha transição de carreira, precisei avaliar sobre a quantidade de tempo que eu passava dando aulas nas escolas e faculdades e as outras coisas que eu poderia fazer com as mesmas horas.

Eu ganhava um bom valor em reais por cada hora de aula dada porque estava bem posicionado no mercado, mas havia outras coisas, inclusive meu próprio negócio ou cuidar melhor do corpo, que eu poderia estar fazendo com esse tempo.

Decidi primeiramente cortar uma parte das horas gastas no meu emprego tradicional para poder dedicar a fazer meus outros negócios pagarem por aquelas horas. Funcionou. Depois de um tempo eu pude largar o emprego com carteira assinada e viver o tempo todo como empreendedor.

Isso me deu tempo para estudar mais, treinar meu corpo, comer melhor (tempo apropriado para as refeições) e até ganhar mais dinheiro porque pude dedicar melhores horas ao que realmente me interessava no momento.

O que vale a pena?

Então a grande questão é: O QUE VALE A PENA DESENVOLVER?

Tenho o exemplo de um cliente que me procurou se dizendo “preguiçoso e procrastinador”. Ele contou que sempre foi assim, que era a natureza dele, que era assim. Trazia todos os indícios do mito da espontaneidade.

É totalmente possível, mesmo para um preguiçoso, desenvolver proatividade em níveis altos, mas requer um tanto de esforço diário, um tanto de horas gastas em desenvolver novos hábitos.

Será que para ela valia a pena gastar essas horas diariamente e semanalmente para se tornar um homem de ação?

Ele precisou avaliar o que teria que deixar de fazer. Teria que parar de ficar horas deslizando o dedo para cima à toa na tela do celular passando a linha do tempo do facebook e do instagram. Teria que parar de ficar horas deitado na cama etc… Esse seria o custo de oportunidade.

E a próxima questão é: QUAL O CUSTO DE OPORTUNIDADE de ficar deitado horas e passando as redes sociais pra cima sem objetivo nenhum?

Avaliando os dois custos e comparando, ele teve que tomar uma decisão. Ainda bem que decidiu que iria pagar o preço de se tornar proativo. Na verdade, me procurar já foi o primeiro passo do processo.

Você pode ser mais que espontâneo

A questão é que você pode ser bem mais do que é hoje e bem mais do que considera espontâneo ou natural em você. Pode aprender novas habilidades e até desenvolver novos traços de caráter.

As únicas coisas que você precisa fazer são:

1 — Decidir o que você quer aprender ou ser.

2 — Procurar alguém ou um sistema que possa te ensinar isso.

3 — Fazer o que esse alguém ou esse sistema mandar você fazer.

Claro, se valer a pena…

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